quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

2015

50 Filmes Favoritos (Circuito Nacional)
Menções honrosas:
50) Dois Amigos - Louis Garrel (6/10)
49) 007 Contra Spectre - Sam Mendes (6/10)
48) A Incrível História de Adaline - Lee Toland Krieger (6/10)
47) A Espiã Que Sabia De Menos - Paul Feig (6/10)
46) Amizade Desfeita - Levan Gabriadze (6/10)
45) Cala a Boca, Philip - Alex Ross Perry (6/10)
44) Missão Impossível: Nação Secreta - Christopher MacQuarrie (6/10)
43) Eden - Mia Hansen-Love (6.5/10)
42 Mia Madre - Nanni Moretti (6.5/10)
41) Aloha - Cameron Crowe (6.5/10)
40) Evereste - Baltasar Kormákur (6.5/10)
39) A Pele De Vênus - Roman Polanski (6.5/10)
38) Cidades De Papel - Jake Schreier (6.5/10)
37) Vício Inerente - Paul Thomas Anderson (6.5/10)
36) Chatô - O Rei Do Brasil - Guilherme Fontes (6.5/10)
35) Magic Mike XXL - Gregory Jacobs (6.5/10)
34) Amor à Primeira Briga - Thomas Cailley (7/10)
33) O Pequeno Quinquin - Bruno Dumont (7/10)
32) Dívida De Honra - Tommy Lee Jones (7/10)
31) Tristeza e Alegria - Nils Malmros (7/10)

30) Noite Sem Fim - Jaume-Collet Serra (7/10)
A dinâmica espacial construída por Serra aqui é absolutamente impressionante, principalmente em ambientes internos. A belíssima paleta de cores e a cinematografia em 35 mm fornecem um belo contraste iconográfico retro à narrativa, toda a ação é muito bem desenvolvida e essa ambiência nova-iorquina dá ao filme toda uma jocosidade formal digna. É uma pena que a decupagem tenha sido tão apressada e descuidada, a maioria das cenas individuais não se consolidam (principalmente na primeira metade) porque elas perdem toda a cinética interior ao plano (preciosa nas mãos de Serra) com esse arroubo frenético, tornando toda a progressão dramática muito menos potente do que poderia ser.

29) O Destino de Júpiter – Andy Wachowski, Lana Wachowski (7/10)
Uma ópera barroca espacial, com cenas de ação maravilhosamente bem filmadas e peculiaridades sutis que o fazem brilhar em comparação com outras super produções norte americanas. Concebe todo um universo inventivo e distópico, onde as variadas ideias doidas de sci-fi dos irmãos Wachowski funcionam miraculosamente bem em conjunto. Possui alguns problemas narrativos (a redundância elíptica dos conflitos familiares, um número razoável de sequências apressadas), diálogos mal desenvolvidos e é um pouco histriônico em uma quantidade razoável de cenas, mas mantém-se como um exercício incomparavelmente superior aos Marvels, Nolans e afins.


28) Ponte De Espiões – Steven Spielberg (7/10)
Essa nova fase premingeriana do Spielberg tem me agradado muito. A primeira metade do filme está entre o que Hollywood produziu de melhor no ano.


27) Amor, Drogas e Nova York – Joshua Safdie, Ben Safdie (7/10)
Muitíssimo bem fotografado, o digital raramente encontra essa textura paradoxalmente opaca e vívida. É uma crônica hiper-realista conduzida em uma estética dardenne indie.


26) Táxi Teerã – Jafar Panahi (7/10)
É quase impossível não compará-lo ao ‘Dez’, o que não é muito positivo para este: é claramente um filme bem inferior ao de Kiarostami. Ainda assim, percebe-se uma aprimoração por parte de Panahi, que constrói uma narrativa com momentos hilários e uma consciente apresentação de personagens, ainda que o filme não seja perfeitamente concatenado.

25) A Travessia – Robert Zemeckis (7/10)
De uma sinceridade que eu honestamente não saberia exprimir.

24) Três Lembranças Da Minha Juventude – Arnaud Desplechin (7/10)
Os dois primeiros atos são bastante fragmentados e não conseguem se estruturar de maneira convincente – algumas elipses chegam a ser inexplicáveis - porém no terceiro tudo se ajeita de forma sublime, e a primeira metade do filme acaba esquecida com o esplendor da segunda.


23) Dois Dias e Uma Noite – Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne (7.5/10)
Exemplar dardenniano onde o notável domínio narrativo dos irmãos se mostra forte como sempre, em um enredo comovente com mais uma boa interpretação de Cotilliard.


22) Branco Sai, Preto Fica – Adirley Queirós (7.5/10)

É um estranho ponto de inflexão entre um faroeste fordiano, um sci-fi B sessentista e uma crônica de humor ácido política. Personagens solitários, nostálgicos e amargurados compõem o cenário para esse conto desesperador de solidão, abandono, desilusão e desejo de vingança.


21) Mad Max: A Estrada Da Fúria – George Miller (7.5/10)
Não é o melhor filme de ação do ano como foi vendido, nem sequer no circuito nacional (imagina no internacional com Blackhat, SPL 2...), mas ainda assim um excelente filme que demonstra um olhar muito habilidoso de Miller ao utilizar toda uma dinâmica frenética em prol de alguns elementos muito básicos da ação, tudo com o auxílio de um CGI que mescla bem com a dramaturgia (pelo menos na maior parte do tempo). É um resgate das melhores tendências formalistas do Miller, e eu sinceramente não consigo imaginar ele realizando um ensaio tão expansivo e esclarecedor da sua visão ao explorar o espaço cinematográfico como aqui.


20) A Lenda Da Princesa Kaguya – Isao Takahata (7.5/10)

É tudo verdadeiramente muito bonito nessa fábula do Takahata em defesa da animação japonesa tradicional. Visivelmente realizada por alguém apaixonado pelo gênero.


19) A Corrente Do Mal – David Robert Mitchell (7.5/10)

Horror slasher com ares setentistas muito lúcido e auto consciente, possui toda uma dinâmica bem própria e uma progressão bastante atípica para o gênero, graças ao cuidadoso trabalho de composição realizado por Mitchell.

18) Mapas Para As Estrelas – David Cronenberg (7.5/10)
É uma espécie de burlesco metafísico em um cemitério, como disse o roteirista Bruce Wagner. Funciona como um interessante ponto de inflexão na carreira de Cronenberg - após sua fase rohmeriana de Cosmópolis e Um Método Perigoso, o diretor constrói um filme de horror que utiliza como pano de fundo o glamour da vida em Hollywood para expor sérios dramas familiares.


17) Pássaro Branco Na Nevasca – Gregg Araki (7.5/10)

Integralmente lapidado em cima de camadas de maneirismos estéticos, é um filme onde tudo vai sendo posto aos poucos em perspectiva com a progressão da trama. Os fetichismos do diretor (formalismos nos planos, mise-en-scène perfeccionista, cenas oníricas plastificadas, alguns cortes mais abruptos) funcionam tão bem aqui exatamente por emanarem uma certa sinceridade e toda uma lógica estruturalista, com seus planos iluminados e suas guinadas quase óbvias de roteiro. Toda essa iconografia conceitual é o que difere o filme de outros dramas dispensáveis do mesmo tema (as falácias latentes na família idealizada norte americana), filmes estes que normalmente sofrem de afetações menos orgânicas e toda uma pretensa seriedade que aparenta almejar uma abordagem poética, mas que acabam soando como uma crise histriônica frágil e insípida (Beleza Americana é um nome que surge imediatamente).


16) O Cheiro Da Gente – Larry Clark (8/10)
Ninguém filma corpos como Clark, ainda mais corpos se relacionando sexualmente: ele aqui propõe um filme praticamente ausente de narrativa, com um redemoinho de imagens em uma montagem fragmentada com ares de Ferrara. É uma das exposições mais pervertidas da sua carreira.

15) Expresso Do Amanhã – Joon-Ho Bong (8/10)
Um trem civilizatório sofrendo uma revolução marxista. Capitalismo, princípio da escassez econômica, lealdade, amor e resistência.


14) Sniper Americano – Clint Eastwood (8/10)

Provavelmente o filme mais mal compreendido do ano, é um estudo de personagem devastador de hermenêutica complexa. Não há espaço para dramatização, os cortes são secos e a narrativa peremptória, exercício no qual toda a força reside no que não é dito mas depreendido. A violência cultivada desde o berço resultando na destruição total do indivíduo, que no fim acaba morrendo pelo seu próprio reflexo no espelho, uma alma condenada pelas suas convicções, com o mesmo boné enfiado no escalpo, o mesmo olhar perdido e a mesma desilusão conjuntural.

13) Jornada Ao Oeste – Tsai Ming-Liang (8/10)
Um filme sobre movimento, definido por incríveis composições de plano onde ocorre uma espécie de dança sublime em slow-motion em contraponto com a rapidez da cidade.


12) Norte – O Fim Da História – Lav Diaz (8/10)
A releitura de Lacan por Zizek camuflada em um enredo raskolnikoviano filmado por Diaz: é tão bom quanto soa ser.

11) La Sapienza – Eugène Green (8/10)
A abordagem formal de Green funciona maravilhosamente bem aqui, como de costume, com cenas absolutamente magistrais, construídas sob o escopo de uma arquitetura como ferramenta transcendental e política. A maneira como as obras arquitetônicas renascentistas e românticas são filmadas é maravilhosa.

10) Acima Das Nuvens – Olivier Assayas (8.5/10)
O tempo, imaterial e contínuo, influindo na progressão da narrativa e construindo um estudo de personagem devastador. Assayas arquiteta, com sua habitual maestria, um exercício metalinguístico exasperante de dramaturgia fortíssima.

9) Duas Irmãs e Uma Paixão – Dominik Graf (8.5/10)
Um estudo de espaço, luz e mise en scène de cuidado dramatúrgico tangível. A arquitetura aparenta engolir as personagens na primeira metade do filme, com a natureza e o formalismo edificante idealizando as relações do triângulo amoroso (possibilitando nascerem boa parte das cenas mais belas do ano). Porém, conforme a trama progride e os conflitos afloram, os três protagonistas vão ganhando mais espaço, e o melodrama vai se tornando cada vez mais notável. É uma novela de época alemã de estética renascentista (a paleta de cores, a escolha de planos, a ambientação em geral) e forma contemporânea (as variações diegéticas, os cortes e experimentações na decupagem, as alternâncias nas escolhas autorais).

8) Noites Brancas No Píer – Paul Vecchiali (8.5/10)
Um exercício de luz e retórica. É tudo tão lindo que por vezes chega a doer.

7) A Visita – M. Night Shyamalan (8.5/10)
No fim as confrontações são muito claras: o espelho quebrado, a paralisia e a humilhação subsequente, a necessidade de redenção pela imagem – basicamente é um filme que consegue fazer com que as maiores qualidades de Shyamalan se superponham aos seus maiores defeitos: uma força imagética telúrica em prol de uma bem concatenada associação de eventos que através dessas metáforas super óbvias intensificam o potencial dramático do filme, ensejo que funciona tão bem exatamente por essa abordagem despretensiosa conceitualmente de um material cinematograficamente sofisticado. É raríssimo também vermos um filme que consegue mesclar comédia, suspense e horror de uma maneira tão natural, descompromissada e divertida. Depois de Lady In The Water, meu Shyamalan favorito.

6) Um Amor a Cada Esquina – Peter Bogdanovich (8.5/10)
Espetacular exemplar de screwball comedy, gênero que raramente vemos filmado com tanta paixão e eficácia (lembra obras primas como 20th Century, Bringing Up Baby, Trouble In Paradise, The Awful Truth, His Girl Friday, The Lady Eve...). Bogdanovich tem plena consciência de tudo que submete ao filme, e como consequência temos um dos enredos rocambolescos mais simples,belos e divertidos do ano.


5) Phoenix – Christian Petzold (9/10)

A Alemanha tentando acobertar o seu passado. É um faz-de-conta e uma cegueira voluntária que vem tanto da parte de Hoss em recusar-se a admitir o que o marido havia feito como também de Johnny ao não perceber que a esposa ainda estava viva. O crítico Filipe Furtado o chamou de “uma refilmagem de Vertigo aos olhos de Fassbinder”, e é uma definição muito boa ao analisarmos a obra em termos estéticos e narrativos: o enredo à la Vertigo fornece um background que faz com que o viés político da obra funcione muito bem. Daqueles filmes que você assiste e em seguida fica uma semana tentando se recuperar do peso dramático e histórico que se submeteu.


4) Pasolini – Abel Ferrara (9/10)

Tudo é política.


3) Para o Outro Lado – Kyioshi Kurosawa (9.5/10)

O sobrenatural como uma extensão espontânea da natureza. Se a dramaturgia (que foi tão injustamente criticada) se estabelece de acordo com essa naturalidade do metafísico, as imagens também devem seguir o mesmo caminho. Daí a opção do título em português ter sido tão ingênua: não é uma ida ‘para o outro lado’ e sim literalmente ‘para a costa’. É uma representação do que há de mais mundano e humano, o metafísico como realidade plena e tangível. Não me recordo de já ter visto um filme que trata o luto tão elegantemente.


2) Adeus à Linguagem – Jean-Luc Godard (9.5/10)

É preciso transver o mundo. Reside nas imagens de Godard uma certa força que resiste, força que decorre de uma transdução telúrica entre a manipulação das modalidades do sensível e a natureza transcendente. No fim, observamos o cachorro dormindo e nos perguntamos se ele está sonhando com as Ilhas Malvinas. E nós o invejamos por ter essa liberdade de sonhar. Não, calma... Ilhas Malvinas?


1) Jauja – Lisandro Alonso (10/10)

É daqueles filmes que nos faz repensar toda a obra de um artista, revelando o que Alonso sempre foi: um fabulista. Começa como uma alegoria ao colonialismo e transmuta-se em uma derivação de faroeste fordiano, apenas para no fim se consolidar como puro cinema. Um jogo iconográfico estratificado que se ressignifica constantemente no olhar retratista de Alonso, em uma reconstrução espacial da Argentina colonial arquitetada magistralmente.

100 Álbuns Favoritos

n) banda – álbum (música favorita)

1) Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly (u)
2) Joanna Newsom – Divers (Sapokanikan)
3) Kamasi Washington – The Epic (Miss Understanding)
4) Björk – Vulnicura (Black Lake)
5) Julia Holter – Have You In My Wilderness (Feel You)
6) Destroyer – Poison Season (Forces From Above)
7) Death Grips – Jenny Death (On GP)
8) Sufjan Stevens – Carrie And Lowell (Should Have Known Better)
9) FKA Twigs – M3LL155X (In Time)
10) Stara Rzeka – Zamknely Oczy Ziemi (Nie Zbliazj Sie Do Ognia)
11) Container – LP (Eject)
12) Vince Staples – Summertime ’06 (Señorita)
13) Dr. Dre – Compton (Deep Water)
14) Matana Roberts – COIN COIN Chapter Three: River Run Thee (Always Say Your Name)
15) Tulipa Ruiz – Dancê (Jogo Do Contente)
16) Natalie Prass – Natalie Prass (My Baby Don’t Understand Me)
17) Father John Misty – I Love You, Honeybear (Bored In The U.S.A.)
18) Algiers – Algiers (Irony. Utility. Pretext.)
19) Clarence Clarity – No Now (Alive In The Septic Tank)
20) Leviathan – Scar Sighted (Dawn Vibration)
21) Chelsea Wolfe – Abyss (Grey Days)
22) Joey Bada$$ – B4.DA.$$ (Paper Trail$)
23) Beach House – Depression Cherry (Space Song)
24) Viet Cong – Viet Cong (Pointless Experience)
25) Jenny Hval – Apocalypse Girl (That Battle Is Over)
26) Zs – Xe (Wolf Government)
27) James Ferraro – Skid Row (Skid Row)
28) Ian William Craig – Craddle For The Wanting (Habit Worn And Wandering)
29) Dr. Yen Lo – Days With Dr. Yen Lo (Day 110)
30) Ghost – Meliora (Cirice)
31) Donnie Trumpet & The Social Experiment – Surf (Warm Enough)
32) Sun Kil Moon – Universal Themes (With a Sort Of Grace I Walked To The Bathroom To Cry)
33) The Game – The Documentary 2.5 (Gang Bang Anyway)
34) KEN Mode – Success (Blessed)
35) Tribulation – The Children Of The Night (The Motherhood Of God)
36) Beach House – Thank Your Lucky Stars (She’s So Lovely)
37) The Underachievers – Evermore: The Art Of Duality (Chasing Faith)
38) Sleaford Mods – Key Markets (Silly Me)
39) Napalm Death – Apex Predator - Easy Meat (Apex Predator – Easy Meat)
40) Jlin – Dark Energy (Black Ballet)
41) Bixiga 70 – Bixiga 70 III (Ventania)
42) John Wiese – Deviate From Balance (Segmenting Process For Language)
43) Prurient – Frozen Niagara Falls (Dragonflies To Sew You Over)
44) The Pop Group – Citizen Zombie (Mad Truth)
45) Jeff Rosenstock – We Cool? (Get Old Forever)
46) Iglooghost – Chinese Nü Yr (Gold Coat)
47) Drake – If You’re Reading This, It’s Too Late (Know Yourself)
48) Ben Zimmerman – The Baltika Years (Phyllis)
49) Grimes – Art Angels (Flesh Without Blood)
50) Ought – Sun Coming Down (Men For Miles)
51) 2814 – Atarashi Ni~Tsu No Tanjo (Shinjiysu No Koi)
52) Lotic – Agitations (Trauma)
53) SOPHIE – Product (Elle)
54) Tame Impala – Currents (Yes I’m Changing)
55) Jamie xx – The Colour (Seesaw)
56) A Sunny Day In Glasgow – Planning Weed Like It’s Acid / Life Is Loss (Jet Black, Starlit)
57) Ash Koosha – GUUD (Harbour)
58) Floating Points – Elaenia (Silhouettes (I, II, III))
59) Baroness – Purple (Morningstar)
60) Kurt Vile – B’lieve I’m Going Down… (Preety Pimpin)
61) Cícero – A Praia (A Praia)
62) Panopticon – Autumn Eternal (Sleep To The Sound Of The Waves Crashing
63) Nao – February 15 EP (Inhale Exhale)
64) Beat Detectives – Boogie Chillen / The Hills Of Cypress (Part 2 – the way of cellophane)
65) Siba – De Baile Solto (Marcha Macia)
66) Everything Everything – Get To Heaven (Get To Heaven)
67) Guizado – O Vôo Do Dragão (Tigre)
68) Liturgy – The Ark Work (Reign Array)
69) Deerhunter – Fading Frontier (Snakeskin)
70) Sleater-Kinney – No Cities To Love (Bury Our Friends)
71) The Mountain Goats – Beat The Champ (Southwestern Territory)
72) Holly Herndon – Platform (Interference)
73) Busdriver – Thumbs (Worlds To Run)
74) Beach Slang – The Things We Do To Find People Who Feel Like Us (Ride The Wild Haze)
75) Bell Witch – Four Phantoms (Suffocation, a Burial I – Awoken (Breathing Teeth))
76) Pusha T – King Push – Darkest Before Dawn: The Prelude (M.F.T.R.)
77) Injury Reserve – Live From The Dentist Office (TTKTV)
78) Lianne La Havas – Blood (Tokyo)
79) Alabama Shakes – Sound & Color (Sound & Color)
80) Lower Dens – Escape From Evil (Quo Vadis)
81) Mount Eerie – Sauna (Spring)
82) Lucas Vasconcellos – Adotar Cachorros (Adotar Cachorros)
83) Panda Bear – Panda Bear Meets The Grim Reaper (Crosswords)
84) Courtney Barnett – Sometimes I Sit And Think, Sometimes I Just Think (Depreston)
85) Colin Stetson & Sarah Neufeld – Never Were The Way She Was (The Sun Roars Into View)
86) So Hideous – Laurestine (Yesteryear)
87) The World Is a Beautiful Place And I Am No Longer Afraid To Die (January 10th, 2014)
88) Godspeed You! Black Emperor – Asunder, Sweet And Other Distress (Piss Crowns Are Trebled)
89) Tobias Jesso Jr. – Goon (Hollywood)
90) Hop Along – Painted Shut (Waitress)
91) Boogarins – Manual Ou Guia Livre De Dissolução Dos Sonhos (Avalanche)
92) Deafheaven – New Bermuda (Luna)
93) Aphex Twin – Computer Controlled Acoustic Instruments pt2 EP (diskhat ALL prepared1mixed 13)
94) Unknown Mortal Orchestra – Multi-Love (Multi-Love)
95) Rafael Castro – Um Chopp e Um Sundae (Ciúme)
96) Dingo Bells – Maravilhas Da Vida Moderna (Fugiu Do Dia)
97) Neon Indian – VEGA INTL. Night School (Smut!)
98) Young Thug – Barter 6 (Can’t Tell)
99) Oneohtrix Point Never – Garden Of Delete (Freaky Eyes)
100) Arca – Mutant (Mutant)

Leituras de 2015:

As Principais Teorias Do Cinema – Dudley Andrew*
A Invenção De Morel – Adolfo Bioy Casares**
Amor Líquido – Zygmunt Bauman*
Molloy – Samuel Beckett
O Último Vôo Do Flamingo – Mia Couto*
O Erro De Descartes – António Damásio
Discurso do Método – René Déscartes
Dois Irmãos – Milton Hatoum*
Entre Nós – Emmanuel Lévinas**
O Manifesto Comunista – Karl Marx e Friedrich Engels
Hamlet – William Shakespeare**
Simmel e a Modernidade – Georg Simmel (organizado por Jessé Souza e Berthold Öelze)**
A República – Platão*
Cármides – Platão* 
A Ética Protestante e o Espírito Do Capitalismo – Max Weber*

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A Brighter Summer Day - Edward Yang (1991)


A Brighter Summer Day é simultaneamente um drama intimista, um coming of age e um filme político. Apesar de Yang em nenhum momento se preocupar analiticamente com a etiologia política dos problemas vivenciados pela juventude da época, constantemente esse passado reflete nos conflitos do filme, como um fantasma da insegurança familiar e conjuntural que permeia as relações de cada personagem.

Com mais de cem personagens dotados de uma riqueza psicológica quase romanesca, Yang vai tecendo com uma sensibilidade pungente e devastadora a crise existencial de todo um país através do olhar desiludido de um jovem rapaz e seu esforço em conseguir estabelecer uma identidade própria em um ambiente hostil. Essa crise de identidade é um tema recorrente nos integrantes das gangues de rua, há uma descaracterização cultural e um sentimento de despertencimento espacial que mantém-se perceptível durante todo o filme, evidenciado até pelos nomes dos jovens das gangues: Cat, Airplane, Honey, Tiger... Eles cantam músicas norte americanas, exortam costumes norte americanos - o jovem Cat inclusive canta as músicas em inglês sem saber falar o idioma, com o auxílio da irmã do protagonista, que ia foneticamente "traduzindo" as músicas do inglês para o mandarim.

É possível traçar um interessante paralelo de A Brighter Summer Day com três filmes, cada um deles assemelhando-se mais a cada uma das características expostas anteriormente, sendo esses filmes Juventude Transviada, A Última Sessão de Cinema e Plataforma (que foi lançado comercialmente quase uma década depois do lançamento deste). O drama atemporal de Ray e a obra prima máxima de Bogdanovich possuem mais elementos em comum do que superficialmente poderia se imaginar: todos expõem um amadurecimento abrupto propiciado pelo mundo que os cerca e sua violência indiscriminada - seja essa violência conjuntural, pessoal, física ou psicológica. Por mais que possa parecer que em A Última Sessão de Cinema a amargura tenha procedido a morte de Sam, na realidade o sentimento de desolação e o vazio existencial esteve ali presente desde o primeiro plano do filme, com o cinema abandonado. Assim como os outros dois títulos, o filme já começa numa situação de instabilidade.

A veia política do filme, assim como em Plataforma, dá-se de maneira sutil, quase no extracampo da obra. Da mesma maneira que o monumento de Jia, Yang vai mostrando aos poucos como essa sociedade foi aos poucos entrando em desespero a partir das influências externas no cotidiano delas. Interessante em Plataforma os integrantes estarem em meio ao redemoinho, diferentemente de A Brighter Summer Day, no qual essa insegurança familiar permaneceu tão forte quanto anteriormente nos filhos.

Outra característica impressionante do filme é a maneira como os objetos são filmados. A força adquirida pela película ao filmar uma lanterna, uma espada japonesa, um rádio, uma fita - os objetos filmados por Yang tem uma potência que ressoa mais que ordinariamente. A mise-en-scène é impecável, tornando assistir ao filme uma experiência quase ascética.

Apesar do sofisticado pano de fundo, a maior beleza está na maneira como Yang filma os impulsos passionais de suas personagens, com seus planos absolutamente deslumbrantes. A desilusão amorosa precedendo a morte da amada (a morte da esperança, da concepção de inocência do mundo) é fortíssima, como todos os conflitos das personagens. A dor e a beleza persistem conflitantes, porém paradoxalmente completando-se, no cinema de Edward Yang.

"It is easy to restore a film’s image, but much harder to revive that feeling of seeing a classic for the first time. Eighteen years ago, Edward Yang’s A Brighter Summer Day was released, heralding a new talent in world cinema. Each year since has further confirmed its status as a classic, but at the cost of increased wear and tear on the prints. Restoration is usually reserved for relics from decades ago. But sometimes we need to dust off recent memories to remind us how brightly the not too distant past shined. Thanks to the latest digital technology, we can seize these celluloid moments even as they begin to slip irrevocably from our grasp. In June of 2007, when he was only 59 years old, we lost Edward Yang forever. I’m very happy that A Brighter Summer Day has been restored so a new generation of filmgoers can feel the excitement of seeing it for the first time." —Wong Kar-Wai

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

2014

Filmes favoritos de 2014:

10) O Gebo e a Sombra – Manoel de Oliveira (8/10)


Oliveira constrói novamente com seus longos planos-sequência um filme que fascina pela singularidade estética e pelo primor pautado da montagem, resultando em uma obra dotada de uma sensibilidade tangível. Não chega a ser do mesmo nível das obras primas que foram os seus últimos filmes, seria até injusto esperar pelo mesmo, mas ainda assim permanece como um dos melhores do ano - nada menos do que esperaríamos do gênio que é o diretor da obra.

9) O Ato De Matar – Joshua Oppenheimer (8/10)


Filme essencial e esclarecedor, principalmente em anos de eleições. Assustador como é atual, e talvez seja tão devastador exatamente por mostrar uma realidade tão próxima de nós, com ideais pró-ditadura com tanta aprovação em pleno século XXI. A cena final expõe magistralmente os horrores de um regime totalitário e os impactos no humano inserido nessa realidade incômoda. O que mais assusta é que o que ocorreu ali, apesar de propiciado pelo sistema social, não tinha relação com ideologia, e sim com as influências psicológicas do ambiente no ser humano.

8) Amar, Beber e Cantar – Alain Resnais (8/10)


O último exercício cênico de Resnais, um dos maiores expoentes da história do cinema mundial. Dispensando raccords, explorando magistralmente noções de campo, contracampo e cenário, cria-se uma obra de direção de arte impecável. Um trabalho minucioso de extracampo, onde toda a história gira em torno de alguém que sequer aparece na tela. É uma ironia das mais tocantes o fato do centro dramático do filme ser alguém prestes a morrer.

7) O Ciúme – Phillipe Garrel (8.5/10)


Através de uma narrativa fragmentada, Garrel extraí instantes de vida pulsantes, dolorosos e sinceros. É um filme sobre relacionamentos e como eles se estruturam, sobre o amor, a vida e o interstício entre ambos.

6) Jersey Boys: Em Busca Da Música – Clint Eastwood (8.5/10)


Impressionantemente sensível a cena em que o protagonista canta uma música para conquistar uma moça da plateia e a narrativa adquiri perspectivas oníricas e idílicas, retratando com maestria a troca de olhares. Sem dúvida o diretor representante do cinema clássico hollywoodiano na atualidade, Clintão mostra que está em plena forma.

5) Vidas Ao Vento – Hayao Miyazaki (8.5/10)


Miyazaki constrói aqui novamente uma história em que a fábula e o imaginário mesclam-se naturalmente com a realidade por vezes dura porém sempre bela do seu universo. Diferentemente da grande maioria de animações japonesas, usualmente bregas e vazias ou dotadas de uma grandiloquência pobre e embusteira (apesar de normalmente estarem travestidos em um molde institucionalizado do ideal de sociedade e trejeitos japoneses, se assemelham muito mais a um blockbuster B americano do que ao mesmo). Aqui os eventos naturais e as variações meteorológicas são personagens, elas influem e variam a progressão de eventos, entrelaçam destinos e constroem raízes. Com o vento indo e vindo, por vezes devastador, devemos tentar sobreviver. Profundamente belo e sensível.

4) Cães Errantes – Ming-Liang Tsai (8.5/10)

Com um lirismo visual pungente e devastador, acompanhamos sucessivas cenas profundamente dolorosas do cotidiano de uma família chinesa, apenas para no fim confrontarmos o encarceramento social desses seres moribundos, renegados, errantes, encontrando como ideal de liberdade uma gravura anciã (bidimensional, intangível) em um edifício em ruínas.

3) Bem-Vindo à Nova York – Abel Ferrara (8.5/10)


Ferrara parte de um evento real (o suposto estupro de DSK) e o abrange para condições metafísicas em uma das digressões psicológicas mais fortes do cinema moderno. A ficção vai adquirindo uma autenticidade incrível que se dissolve em luz, formas, sombras e termina por construir uma devastadora análise interior da personagem principal. A encenação absolutamente impressionante de Depardieu na sua dicotomia DSK/próprio Depardieu é simplesmente estonteante.

2) Era Uma Vez Em Nova York – James Gray (9/10)



1) Hotel Mekong – Apichatpong Weerasethakul (9/10)


Exercício magistral de fabulação que coordena distintas realidades no universo de um hotel. O sobrenatural em contato com o cotidiano, a paixão idílica de dois amantes, o tempo em constante e irrefreável movimento como o fluxo de um rio. Navegando entre os destroços causados pelas insidiosas inundações sucessivas comentadas na obra, flui como um sonho à deriva.

Álbuns favoritos de 2014:

50) O Terno – O Terno
49) Parkay Quarts – Content Nausea
48) Thantifaxath – Sacred White Noise
47) Full Of Hell – Full Of Hell & Merzbow
46) Wildbirds & Peacedrums – Rhythm
45) BADBADNOTGOOD - III
44) Julia Brown – An Abundance Of Strawberries
43) Clark - Clark
42) The Twilight Sad – Nobody Wants To Be Here And Nobody Wants To Leave
41) Behemoth – The Satanist
40) Scott Walker & Sunn O))) – Soused
39) Interpol – El Pintor
38) Liars – Mess
37) Kayo Dot – Coffins On Io
36) Mastodon – Once More ‘Round The Sun
35) Oren Ambarchi & Eli Kesler – Alps I
34) La Dispute – Rooms Of The House
33) Panopticon – Roads To The North
32) Have a Nice Life – The Unnatural World
31) Naked Island – Naked Island
30) The War On Drugs – Lost In The Dream
29) La Roux – Trouble In Paradise
28) Wolves In The Throne Room – Celestite
27) Dean Blunt – Black Metal
26) tUnE-yArDs - Nikki Nack
25) Freddie Gibbs & Madlib – Piñata
24) A Sunny Day In Glasgow – Sea When Absent
23) Busdriver – Perfect Hair
22) Caribou – Our Love
21) Carla Bozulich – Boy
20) Run The Jewels – Run The Jewels 2
19) Botanist – VI: Flora
18) Spoon – They Want My Soul
17) Thee Silver Mt. Zion – Fuck Off! Get Free! We Pour Light On Everything
16) Dorval & Devereaux - Dorval & Devereaux
15) Aphex Twin – Syro
14) St. Vincent – St. Vincent
13) Clipping – CLPPNG
12) D’Angelo & The Vanguard – Black Messiah
11) Perfume Genius – Too Bright
10) i. o. – Edit Architect
Estruturalmente, um dos mais complexos álbuns do ano – mesclando chamber music, free jazz, lo-fi, black metal e avant-garde com uma voracidade hermética e sublime, apenas para depois leva-la em contraponto à melancolia constante dos acordes em delay acústico que surgem simbolicamente em meio ao caos. Funciona como uma noção de beleza tópica travestida em uma estética terrorista.
9) Jenny Hval & Susanna – Meshes Of Voice
O lirismo lascivo e hipnotizante de Hval associado às melodias torturantes de Susanna. Provavelmente a melhor colaboração do ano.
8) Flying Lotus – You’re Dead!
O álbum mais conciso do Flying Lotus até o momento (o que não é pouca coisa). Ponto de encontro inevitável após o sucesso estrondoso dos seus últimos dois álbuns, You’re Dead! mistura jazz, hip hop e eletrônica construindo uma das incursões metafísicas mais fascinantes de 2014.
7) Death Grips – The Powers That B
WHERE ARE YOU JENNY DEATH?
6) Ariel Pink – Pom Pom
Meu álbum favorito do Ariel Pink. Em uma época onde o pop vive de singles, não é menos que fascinante escutar algo que funciona exatamente pelo contexto, pela maneira como as músicas dialogam entre si e com o passado.
5) FKA Twigs – LP1
Uma ingressão que de tão emotiva soa física - a luxúria, o amor e a decepção sentidas na pele, cada gota de suor, cada fita de vídeo vazada, cada término de relacionamento, cada sentimento consumado com a submissão e entrega lasciva.
4) Iceage – Plowing Into The Field Of Love
Joy Division com Nick Cave and The Bad Seeds. É impressionantemente visceral devido à entrega vocal cínica e suja de Elias Bender em sintonia perfeita com os riffs distorcidos das guitarras e estabelecendo um emocionante contraponto com as linhas ascéticas de teclado.
3) Grouper - Ruins
Durante as primeiras tentativas de adentrar o primeiro álbum acústico do Grouper, o processo aparenta monótono, repetitivo e hermético. Porém, conforme vamos nos acostumando com o tom vertiginoso construído por Liz Harris, percebemos que na realidade se trata de uma das entregas mais emocionalmente complexas e profundas do ano - as linhas assombrosas de teclado evidentemente só tornam a jornada ainda mais tocante.
2) Sun Kil Moon - Benji
Arrisco dizer que é o álbum mais honestamente devastador dos últimos anos. Não consigo imaginar alguém escutando músicas como Jim Wise ou Micheline sem termina-las com os olhos marejados. Liricamente, é o que há de mais belo e sincero na música recente -  o testamento musical de Mark Kozelek.
1) Swans - To Be Kind
O álbum mais agressivo, distorcido e alucinante do ano. No fim, a misantropia voraz que permeia os riffs repetitivos, as linhas de bateria indiscriminadas, os trompetes insanos e o lirismo doentio do álbum adquirem tanta potência que não existe outra solução senão se render à grandeza dessa obra prima. É possível traçar um interessante paralelo entre a tautologia encontrada na retórica do álbum (representada evidentemente pela redundância de certas ideias) com o pathos associado ao logos em detrimento do ethos institucionalizado, construindo uma análise doentia da desilusão existencial do homem contemporâneo em um mundo imoral. Acima de tudo, uma obra essencial.

Algumas leituras de 2014 (que recomendo fortemente):

- Em Busca Do Tempo Perdido Vol. 2: À Sombra Das Raparigas Em Flor – Marcel Proust
- O Homem Sem Qualidades – Robert Musil
- O Castelo – Franz Kafka
- O Som e a Fúria – William Faulkner
- Crime e Castigo – Fiodor Dostoiévski
- O Círculo de Giz Caucasiano – Bertolt Brecht
- Sagas – August Strindberg
-O Perseguidor – Julio Cortázar
- Esculpir o Tempo – Andrei Tarkovsky
- Ensaio Sobre a Análise Fílmica – Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété