terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Plataforma - Jia Zhangke (2000)


"A plataforma longa e vazia. A espera parece interminável. Os grandes vagões estão carregando... Meu amor de vida breve. A plataforma longa e vazia. Solitários, só podemos esperar. Todo o meu amor indo embora. Nada há no trem que vem. Meu coração espera, espera para sempre... Espera para sempre..."

Jia Zhangke é um dos cineastas mais importantes da contemporaneidade. Não apenas pela sua inovação estética - minimalista na abordagem imagética e fortemente crítica no extra campo de suas obras - mas também pela capacidade do diretor de expor as falácias da China moderna sem tornar suas obras pessimistas (a priori), pretensiosas ou maçantes. As bruscas mudanças culturais no país são apresentadas sutilmente, assim como as mudanças psicológicas de suas personagens, que vão sendo reveladas com cuidado cirúrgico e amadurecidas lentamente.

Em Plataforma, o diretor expõe as mudanças sociais, ideológicas e principalmente culturais que a China sofreu durante o fim da década de 70 e ínicio da década de 80, quando as alterações impressas no oeste do país durante a Revolução Cultural foram atingindo o interior, e uma compania de teatro que anteriormente fazia músicas de cunho coletivista, exaltando gêneros musicais majoritariamente chineses, que vai vagarosamente tendo sua estética artística alterada por censuras sociais e políticas - a cultura pop de origem ocidental vai varrendo o país, minimizando a cultura essencialmente chinesa.

O filme expressa um sentimento de insegurança cultural, de perda de referências, que se intensificava na China através da afirmação das individualidades advinda do fortalecimento da dinâmica capitalista na cultura chinesa. A censura do Partido (não apenas artisticamente, mas politicamente também) acaba gerando uma auto censura endêmica na sociedade - a estrutura intelectual do país é fragilizada.

Jia Zhangke filma em planos amplos, demorados, cuidadosamente construídos, expondo personagens idealistas tendo seus planos futuros lentamente erodidos pela dura realidade social do país. A cena em que a dançarina, sonhadora, dança sozinha em seu quarto é um dos momentos mais belos do cinema contemporâneo - é fantástico como as personagens de Plataforma permanecem alegres, vivas, apesar do sofrimento silencioso que permeia suas ações.

Exemplar contemporâneo do cinema político, Plataforma é, acima de tudo, um filme sobre a vida, e como é importante manter-se intelectualizado e crítico em uma sociedade brutal. É uma elegia à existência humana, à individualidade, ao ideal coletivista em contraponto com a voracidade moral de um país confuso e desenfreado - uma das maiores obras do novo século.

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