quarta-feira, 5 de março de 2014

Água Fria - Olivier Assayas (1994)


Olivier Assayas é um daqueles diretores que têm como intuito principal expor em seus filmes falácias morais e/ou sociais ignoradas pela sociedade em geral, usualmente por não apresentarem consequências negativas imediatas ou evidentes. Em Água Fria, ele disserta sobre a rebeldia (sem?) causa presente na juventude francesa pós 68 e sem demagogias pretensiosas propõe um exercício exasperante, com movimentos fluidos de câmera que evocam  a frustração desses jovens e a incompatibilidade ideológica deles com a sociedade.

O filme conta a história de um casal de namorados, Gilles e Christine (essa última em excelente atuação), que possuem graves problemas familiares e cometem pequenos delitos como atos de rebeldia contra a opressão silenciosa presente no sistema social do país na época. Todas essas relações são filmadas com a exímia sensibilidade estética de Assayas, que vai mostrando as mudanças no interior de suas personagens com cautela, expondo a asfixia psicológica que a sociedade imprime no casal.

Uma característica peculiar na obra é a presença constante de elementos estrangeiros na composição estética do filme - trilha sonora estrangeira, forte influência norte americana no cotidiano da sociedade setentista francesa - que remetem à uma perda de identidade, sendo este um dos fatores para a desilusão existencial das personagens, incapacitando-as de se relacionar com o mundo exatamente por não se sentirem parte do mesmo.

No fim, resta a solidão - que sempre esteve lá, apenas escondida no meio de tantos conflitos, abafada com a voracidade silente presente na relações interpessoais do filme. A última cena é belíssima, sintetiza toda essa incompreensão ontológica  presente na juventude, esse grito silencioso de desespero que decorre do ser. Essencial!

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