quarta-feira, 12 de março de 2014

Sangue Ruim - Leos Carax (1986)


Sangue Ruim é um misto de ficção científica e film-noir, com fortes influências da nouvelle vague na sua composição estética - característica esta que proporciona à obra caráter sublime, sendo esse deslumbre visual uma das maiores qualidades que o filme possui. A fotografia é belíssima, as referências são inúmeras, a trilha sonora é perfeitamente ajustada às cenas, o roteiro é poético e encantador: em suma, um filme típico de Leos Carax.

A narrativa toma lugar em uma França pós moderna, onde uma doença nova denominada STBO tem como transmissão o sexo sem amor, sem compromisso (clara alusão à epidemia do vírus do HIV, que a partir da década de 80 começou a se alastrar pelo mundo atenuando a liberdade sexual conquistada na década de 60/70 pela juventude mundial). Carax parte dessa premissa para expor uma dissertação que a priori pode aparentar desinteressante e datada, mas com uma diegese fílmica instigante e bela acaba atingindo potência imensurável.

A mise-en-scène evoca uma França fria e individualista, expondo um encarceramento social e sentimental que parece desolar a sociedade. Esse ambiente claustrofóbico associa-se perfeitamente ao solilóquio intrínseco às personagens da obra, que apesar de possuirem relações interpessoais aparentam estar sempre em desilusão existencial, demonstrando uma certa confusão sentimental renitente.

Impossível não se interessar também pelas fantásticas personagens de Julie Delpy e Juliette Binoche, que representam peculiaridades psicológicas e interpretações passionais que estabelecem um inexplicável paradoxo com as ideias do filme: contrapõe-se e se associam ao mesmo tempo à estética desesperançosa da obra.

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